segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Adolescentes e acidentes automobilísticos: como prevenir?
Segundo alguns pesquisadores o automóvel é o predador natural de crianças e adolescente. Estatísticas globais indicam que a metade das mortes no trânsito são por atropelamento, a transmissão da energia de veículos automotores para pedestres. No Brasil, estima-se que cinco mil crianças e jovens até 19 anos morrem por ano vítimas de atropelamento, correspondendo de 15 a 20% de todas as mortes ocorridas nessa faixa etária.
As injúrias físicas aos pedestres constituem problema de saúde pública, merecendo campanhas de esclarecimento envolvendo toda a sociedade.
Nem o rígido Código de Trânsito atual consegue reverter o problema que possui várias variáveis:
1) O aumento desorganizado do número de veículos sem o correspondente investimento em segurança nos automóveis, estradas e recursos humanos;
2) Conivência da sociedade tolerando o uso abusivo de álcool entre os adolescentes e demais motoristas;
3) A falta generalizada de limites nas ações dos adolescentes que se sentem senhores do mundo quando transitam nos veículos (associando a posse de carros ao poder sobre o sexo oposto);
4) O desinteresse das pessoas a respeito da segurança para o trânsito;
5) O comportamento de muitos pais permitindo que seus filhos conduzam veículos em idades não permitidas por lei.
O risco de uma criança ser atropelada está diretamente relacionada com o número de ruas que ela atravessa. Crianças mais pobres entre a idade de 3 a 12 anos sofrem mais atropelamentos em função de estarem mais expostas ao trânsito. A tendência ao declínio dos atropelamentos de crianças e jovens está associada em até dez vezes à mudança do hábito de caminhar sozinhas até a escola sem a companhia de um adulto.
Os efeitos do álcool já são por demais conhecidos por todos. Cerca de metade dos adolescentes maiores de dezesseis anos atropelados durante a noite têm teor alcoólico elevado no sangue. A maioria dos atropelamentos de crianças e jovens ocorre no meio dos quarteirões, longe da faixa destinada a pedestres.
Cerca da metade das injúrias graves contra adolescentes ocorrem no choque contra os veículos e não com a queda ao solo, sendo a cabeça e as pernas as partes mais atingidas do corpo.
A partir dos doze anos de idade o adolescente já é capaz de fazer julgamentos acurados a respeito de velocidades e distâncias. No entanto, seu comportamento é cada vez mais influenciado pelos seus colegas, com atitudes de desafios a regras. É bonito desafiar regras, segundo os mesmos. Dá maior aceitação entre seus pares. Além disso, é mais comum estar fora de casa, longe da supervisão de adultos.
Atividades com os patins de alta velocidade e skates constituem fatores de risco adicionais. A partir dos dezesseis anos o uso e abuso de bebidas alcoólicas, junto com outras drogas, aumentam as chances de acidentes automobilísticos.
Sob o ponto de vista de desenvolvimento psicomotor, toda criança abaixo de oito anos de idade jamais deveria enfrentar situações de trânsito sem a supervisão direta de um adulto; nas grandes avenidas, com cruzamentos sinalizados, com movimentos constantes de veículos, essa supervisão deverá se estender até os doze anos de idade.
Existe diferença entre proteção e cuidado. Supervisionar adolescentes não é o mesmo que lhes tolher a liberdade. É antes de tudo evitar acidentes que possam ceifar vidas jovens com todo um potencial para ser livres para a vida, inteiros.
Áreas mais pobres, mais densamente habitadas e com maior volume de tráfego apresentam maior incidência de atropelamentos.
Fatores mais específicos de risco são:
1) Número maior de veículos estacionados;
2) Vias de mão dupla;
3) Menor policiamento;
4) Controle deficiente da velocidade dos veículos;
5) Maior quantidade de crianças;
6) Casas superpovoadas;
7) Mulheres ou homens não casados como responsáveis sozinhos pelas famílias.
A responsabilidade de motoristas (insegurança, alcoolismo) para atropelamentos é variável de 21 a 46%; e estudos têm mostrado que os motoristas, em geral, empreendem uma mínima ação para evitar atropelar crianças.
O que poderemos fazer para evitar tantos acidentes na adolescência?
ACIDENTES NA ADOLESCÊNCIA: COMO PREVENI-LOS?
Os adolescentes preferem os comportamentos de risco por várias variáveis, sendo uma delas a procura de identidade no grupo no qual está inserido. Há uma vivência de que quanto maior o comportamento de risco em que estiver envolvido, e dele sair ileso, maior será sua aceitação. Principalmente para o sexo oposto, surgindo maior possibilidade de conquista do mesmo.
Fazer pegas no trânsito. Usar drogas lícitas (cigarros ou bebidas alcoólicas), ou ilícitas (maconha, cocaína, crack, e outras), violando leis e ordens estabelecidas, poderá ter como significado a busca do poder vislumbrado no mundo dos adultos. Os símbolos de riqueza fascinam os jovens e a ostentação dos mesmos ganha maior importância a cada dia que passa na sociedade competitiva em que vivemos. Ter mais significa ser mais.
O consenso geral entre os peritos em segurança de trânsito é de recomendar a promoção de intervenções educacionais em vista da melhora do conhecimento e do comportamento, ainda que com efetividade moderada, com ênfase naqueles programas que envolvam os pais.
Assim como no caso de outras injúrias físicas, estratégias de modificação ambiental no sentido de eventualmente separar a criança do automóvel parecem ter maior efetividade no controle dos atropelamentos.
Medidas que exigem alterações mais substanciais na configuração das ruas se adaptam melhor a comunidades que estejam em fase de desenvolvimento, sendo de difícil aplicação em curto prazo em áreas urbanas de grande risco para pedestres, comuns em países como o Brasil.
O conceito de "acalmação do trânsito" introduzido em anos recentes, particularmente a partir de estudos europeus, combina modificações múltiplas de engenharia de tráfego (sinalização ostensiva, barreiras, quebra-molas, áreas de acesso restrito a carros, zonas de refúgio de pedestres), com vistas a reduzir a velocidade dos veículos e promover um nível maior de atenção dos motoristas. Esta é uma intervenção atraente e promissora, se não pela redução do risco de atropelamento, até por tomar os ambientes urbanos esteticamente mais agradáveis, com melhor qualidade de vida.
O uso de roupas fosforescentes ou retro-reflexivas mostraram-se de pouco efeito para reduzir as injúrias por atropelamentos. Os motoristas não vêem os pedestres.
As medidas mais efetivas para prevenir acidentes na adolescência são:
1) Conscientização dos adolescentes e seus familiares a respeito do risco de atropelamentos inerentes a cada período do desenvolvimento;
2) melhora do conhecimento sobre segurança;
3) mudança de comportamento para um estilo mais seguro de vida;
4) conhecimento dos pais a respeito das várias fases da adolescência e o que se passa com o adolescente;
5) não permitir crianças desacompanhadas nas ruas antes dos 12 anos;
6) comportamento seguro dos pais, agindo como modelos;
7) brincadeiras em áreas cercadas;
8) diminuir os riscos dos acessos de garagens;
9) formação de brigadas de estudantes para auxiliar no controle do fluxo de veículos nos locais e horários de entrada e saída das escolas, supervisionadas por uma autoridade do trânsito;
10) desvio do tráfego das proximidades de escolas;
11) adoção de vias com mão única;
12) limitação do estacionamento próximo às calçadas;
13) manutenção de calçadas limpas e apropriadas para o uso em toda sua extensão, preferencialmente separadas por cercas nas proximidades das escolas;
14) construção de playground afastado ou separado de ruas movimentadas e cercados;
15) menor velocidade dos veículos por meio de policiamento ostensivo;
16) controle severo do ato de dirigir sob o efeito de álcool, com aplicação rígida e não condescendente das normas do Código Nacional de Trânsito em vigor;
17) programas de educação dos motoristas quanto aos riscos dos pedestres adolescentes.
Essas estratégias podem e devem sair do discurso e ir para a prática. É o aprendizado de cidadania do adolescente. Cidadão de corpo e alma. Ser, construindo sua liberdade para ter. E não o inverso.
CLÍNICA INFANTO-JUVENIL PRÓ-CRESCER: DO FETO À ADOLESCÊNCIA. (www.procrescer.med.br)