domingo, 29 de novembro de 2009
Infecção de garganta: vilã das doenças febris agudas na infância
Os pais desejam uma explicação rápida para a febre em seus filhos.
Maus presságios rondam a casa onde há uma criança febril.
A febre traz más lembranças. Recordações de doenças graves que acometeram conhecidos ou amigos de conhecidos em alguma época.
As noites são mal dormidas por todos. A criança febril, inquieta, insone, solicita a presença dos pais como Anjos da Guarda. E esses de pronto atendem ao chamado daquele rostinho sempre alegre agora triste e com respiração ofegante, nariz obstruído, pedindo socorro.
Tudo fica pior à noite. O medo aumenta. Com ele vem o pavor da convulsão febril, tão mais eminente quanto maior a temperatura corporal na mente apreensiva e febril dos pais.
Com essa tensão toda, com esse desejo de saber logo a causa da febre, procura-se (e acaba achando) alguém que olhe para a garganta da criança. Estando avermelhada logo se faz o diagnóstico tão esperado. Infecção de garganta. Para alívio de todos. Ufa! Graças a Deus! É a garganta! É só dar um antibiótico e pronto...
Principalmente se a criança for levada a uma farmácia ou a um Pronto Atendimento. Aqui, pelas próprias características tumultuadas de atendimento, com profissionais sobrecarregados cuidando de outras urgências, faz-se logo o diagnóstico de amigdalite causadora da febre, prescrevendo um antibiótico para aliviar a tensão de todos.
Dos próprios médicos e familiares, ficando livres do problema apresentado, qual seja, o de uma criança com um quadro febril agudo a esclarecer.
Nas farmácias tornou-se corriqueiro qualquer atendente abrir a boca da criança e vendo-a avermelhada passar o primeiro antibiótico da prateleira. Como se fosse vender uma lata de leite ou um produto de beleza.
E lá se vão os pais, satisfeitos, empurrando goela abaixo o medicamento fornecido, sem a mínima noção de efeitos colaterais, sem nem ao menos se perguntarem se a conduta tomada é realmente correta, se é a melhor para seus filhos.
Querem mesmo é ficar livre da febre, esse mal agouro que acometeu seu filho, acompanhando-o como se fosse uma sombra. Resolver o problema. Acabar logo com isso.
A criança normal costuma apresentar vários episódios respiratórios infecciosos, especialmente nos primeiros anos de vida, autolimitados, benignos, de curta duração, de localização variável na árvore respiratória e sem prejuízo do seu processo de crescimento e desenvolvimento.
Alguns fatores de risco deverão sempre ser analisados quando estamos diante de uma criança com possível quadro de infecção de vias aéreas superiores (IVAS), dentre elas, a amigdalite.
A idade é o principal. Vários agentes etiológicos poderão acometer as amígdalas, causando dor, mal estar, febre, dificuldade de deglutição. Vírus. Bactérias. Doenças alérgicas. Doenças hematológicas.Fenômenos irritativos e outros.
Portanto, nem toda alteração das amígdalas, com vermelhidão, significa infecção e deva ser usado antibiótico.
Os vírus são os agentes causais mais importantes, mesmo quando se detecta secreção purulenta nas amígdalas, sendo isolados em cerca de 80% dos casos.
As infecções bacterianas são responsáveis por 15 a 20% e na quase totalidade (90%), causada por uma bactéria chamada estreptococo beta-hemolítico do grupo A.
Nas infecções de garganta que ocorrem abaixo de dois anos de idade, somente 4% são pelo estreptococo, enquanto entre os cinco e oito anos de idade essa proporção sobe para 50%.
Somente o médico, e dentre eles o pediatra com maior e melhor treinamento para tal, tem habilidade técnica para saber distinguir a probabilidade d`quela criança, naquela circunstância, estar com amigdalite viral ou bacteriana, instituindo o tratamento adequado. Nenhum outro.
Nas infecções de garganta de repetição (e esse é um conceito difícil de se estabelecer na prática clínica) alguns fatores de risco deverão ser questionados:
1) Ambiente físico na casa e na escola.
2) Número de pessoas por metro quadrado.
3) Presença de crianças com idade inferior a cinco anos.
4) Condição de ventilação e insolação.
5) Presença de umidade e mofo. Fumantes.
6) Presença de outros tipos de poluentes no meio ambiente.
7) Abandono do aleitamento materno.
8) Mães muito jovens e com baixo nível de escolaridade.
9) História alimentar, principalmente se deficiente em vitaminas A e D; etc.
Ao se lidar com o humano não é tão simples estabelecer a relação de causa e efeito.
Não é tão simples olhar a garganta de uma criança, deduzir que a vermelhidão é causada por uma infecção, supor que aquela infecção é causada por uma bactéria, e daí usar antibiótico. Com gente a coisa é diferente... A criança merece ser mais bem cuidada, melhor conhecida.
Clínica Infanto-Juvenil Pró-Crescer: Do Feto à Adolescência. (http://www.procrescer.med.br/)