terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cefaléia: queixa comum na infância




A cefaléia, ou dor de cabeça é um dos sintomas clínicos mais freqüentes, não só em adultos, mas também em crianças.

Estima-se que até a idade de quinze anos, 75% da população tenha apresentado no mínimo um episódio de cefaléia, tornando-se esta uma queixa freqüente em consultórios pediátricos.

Filhos de pais que queixam com freqüência dores de cabeça aprendem a também se queixar diante de alguma frustração.Principalmente quando percebem que a tal dor de cabeça contribui para chamar a atenção sobre eles.

A queixa repetida aumenta a preocupação dos pais. Daí para deixar de fazer as lições da escola, ou para obter um privilégio que seria negado em outras circunstâncias, é um pulo...

Dor de cabeça preocupa muitos pais que pensam logo em tumor. Temem doenças graves como meningites ou seqüelas de alguma queda que a criança teve há alguns anos atrás. Principalmente se parentes ou amigos próximos apresentaram em alguma época tais doenças.

As cefaléias na infância podem relacionar-se a amplo espectro clínico, devendo ser divididas em dois grandes grupos: primárias (enxaqueca, tensional e em salvas) e secundárias (podendo estar associadas aos mais diferentes distúrbios, desde febre até aumento da pressão intracraniana).

A dor de cabeça diária crônica do adulto pode ter sua origem na infância ou adolescência.

A enxaqueca é a dor de cabeça mais freqüente na infância, com predominância no sexo feminino.Fatores genéticos estão implicados.

Filhos de pais com enxaqueca têm maior probabilidade de também apresenta-la em alguma época de suas vidas. Caracteriza-se por crises com duração de quatro a 72 horas (em crianças podendo durar menos de duas horas); sendo na maioria das vezes unilateral (de um só lado da cabeça), de intensidade moderada ou severa a ponto de limitar ou impedir as atividades diárias, associada a náuseas e vômitos.

Habitualmente, durante as crises, a criança não tolera luminosidade e sons altos, sendo agravada também por atividades físicas. São comuns alguns sintomas associados, como taquicardia (aumento da freqüência cardíaca), palidez ou vermelhidão da pele, alterações de humor, apetite, sede, sono e temperatura; bocejos e soluços também ocorrem com freqüência.

Alguns distúrbios podem estar associados à enxaqueca, tais como vômitos fáceis durante viagens, dores em membros inferiores e dores abdominais recorrentes.

Alguns fatores poderão precipitar as crises de enxaqueca:

1) Estresse;

 2) Exercícios físicos;

3) Alergia;

4) Fatores dietéticos;

5) Alterações hormonais no período pré-menstrual;

6) Alguns alimentos, por conterem corantes, poderão desencadear as dores: Salsichas. Salames. Bacon. Presunto.

A associação entre enxaqueca e epilepsia é difícil de ser feita. Ambas as doenças são freqüentes na infância, porém a relação de causa-efeito não pode ser estabelecida.

A cefaléia tensional caracteriza-se por dor em pressão, bilateral ou em faixa, com duração variável de trinta minutos a sete dias, com intensidade fraca a moderada, não agravada por atividade física, não associada a náuseas ou vômitos e tampouco a luminosidade ou a barulhos do meio ambiente ao redor. Ocorre mais à tarde, principalmente após atividades escolares.

A dor de cabeça secundária, principalmente relacionada com o aumento da pressão intracraniana, tem características próprias que somente o médico poderá diferenciar das outras causas de dor.

É muito comum a criança queixar dor de cabeça durante episódios das doenças febris agudas, tão comuns na infância. Essas dores, nessas circunstancias, não estão associadas a doenças dentro da cabeça. Só pelo fato de estarem com febre, levando a dilatações transitórias de vasos sanguíneos situados dentro do crânio, explicaria a dor.

Os tumores intracranianos na infância são raros. São dores com menos de seis meses de duração, em horário matinal ou noturno, provocando o despertar durante o sono, predominando os vômitos sobre a dor, com alterações durante o exame neurológico, alterações do comportamento ou declínio do desempenho escolar, podendo estar associado com crises convulsivas, piorando com exercícios físicos.

As intensidades das cefaléias secundárias a tumores tendem a aumentar com o passar do tempo e têm pouca melhora com os analgésicos comuns.

O diagnóstico das cefaléias primárias (enxaquecas e tensional) é fundamentalmente clínico; não existindo, até o momento, marcadores laboratoriais que auxiliem o diagnóstico.

Muitos pais chegam no consultório solicitando um eletroencefalograma ou tomografias do crânio, sendo absolutamente desnecessários na maioria das vezes. A história clínica e familiar, associada com um exame físico e neurológico completos, é suficiente para se estabelecer diagnósticos e iniciar tratamentos sintomáticos ou profiláticos.

Ao contrário do que pensam muitos pais, raramente problemas visuais causam dor de cabeça.

Quanto ao tratamento correto das cefaléias na infância, cabe somente ao médico instituí-lo, evitando-se medicamentos de efeitos duvidosos, com potenciais efeitos colaterais.


Clínica Infanto-Juvenil Pró-Crescer: Do Feto à Adolescência (http://www.procrescer.med.br/)