terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Obesidade na adolescência: medidas práticas






Núcleo Gerencial do Departamento de Adolescência da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria)
Maria Conceição Oliveira Costa 1
Eloisa Barreto Bacelar 2
Pierry Fábio Cavalvante Coni 2


1. COMO PODE SER FEITA A AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR OU DA DIETA ALIMENTAR NA ADOLESCÊNCIA?

A avaliação poderá ser feita através de um registro alimentar de 3 a 10 dias, recordatório de 24h e através do questionário de freqüência alimentar, instrumentos que podem orientar quanto à ingestão calórica quantitativa e qualitativa.

É importante documentar a freqüência das refeições, horários intermediários às refeições principais, visitas a lanchonetes, restaurantes e festas, assim como, os responsáveis pelo preparo das refeições e compras de alimentos semanais e mensais.

2. COMO AUXILIAR O ADOLESCENTE OBESO NA ESCOLHA DE SUA DIETA?

Para orientar o adolescente com sobrepeso ou obeso e ajudá-lo na escolha de alimentos menos gordurosos e mais saudáveis, o uso da Pirâmide dos Alimentos poderá ser de grande contribuição.

Essa escolha de alimentos naturais e adequados deverá ser associada à de alimentos industrializados. Na adolescência, as orientações visam, principalmente, a manutenção do peso com oferta normocalórica.

3. QUAL A MÉDIA DE TEMPO ESPERADO PARA A ADESÃO DO ADOLESCENTE À NOVA DIETA?

A expectativa é de que num período mínimo de 1 a 2 anos e com acompanhamento mensal o adolescente possa ter aprendido a comer de forma mais adequada em termos de horários, quantidade e qualidade de alimentos, tempo necessário à adequação do seu peso à sua altura, já que se encontra em fase de crescimento.

A perda de peso em fase de crescimento além de reduzir o tecido adiposo reduz o tecido magro, interferindo na curva de crescimento.

A manutenção do peso atual com crescimento em altura normal permite a adequação da relação peso/ altura e o índice de massa corporal (IMC), exceto nos casos em que o crescimento estatural esteja desacelerado, onde é necessária a perda de peso.


4. QUAL A DISTRIBUIÇÃO IDEAL DOS MACRONUTRIENTES NA DIETA DO ADOLESCENTE?


Com relação às gorduras da dieta: limitar a 25%-30% do valor calórico total diário, através do controle e/ou diminuição da ingestão de alguns tipos de preparações e alimentos como:

Frituras, milanesas, sobremesas com cremes ou alto teor de gorduras, embutidos (salames, salsichas), maionese, chocolates, creme de leite, manteiga ou margarina, bolachas recheadas e salgadinhos, uso de óleo nos refogados.


Os carboidratos ou açúcares: deverão ser oferecidos na forma complexa, ou seja:

Pão, batata, outros tubérculos e raízes, além de macarrão e arroz , preparados com pouca gordura e controlados na quantidade, sendo liberado o consumo de verduras e legumes com menor teor de carboidrato (folhas, abobrinha, quiabo).

A preferência na oferta de carboidratos complexos visa o consumo adequado de fibra dietética com vistas a reduzir a ingestão calórica, aumentando a sensação de saciedade.

Os glicídios simples (açúcar, doces em calda, compotas, doces de corte, refrigerantes e balas) deverão estar limitados. Em compensação o consumo liberado de frutas é preconizado. Os carboidratos simples e complexos poderão participar com 50% a 55% do valor calórico total diário.

As proteínas: oferecer através de:

Leite semi-desnatado, preferencialmente adicionados de vitaminas liposolúveis (A, D e E), frango sem pele, peixe e carne bovina magra.

Seu percentual com relação ao valor calórico diário poderá ser de 20% a 25% . Tais percentuais, considerados elevados em relação a uma dieta padrão, evitam o balanço nitrogenado negativo e a perda de massa muscular.

5. COMO AUXILIAR O ADOLESCENTE FRENTE SUA ALIMENTAÇÃO E A CRIAÇÃO DE NOVOS HÁBITOS?


1. Aconselha-se 3 refeições básicas (café da manhã, almoço e jantar) e 2 lanches (manhã e tarde). Evitar longos períodos de jejum pois a omissão de refeições provoca fome incontrolável e não contribui para a perda de peso;

2. Nos lanches, sempre que possível, utilizar frutas ou suco integral (s/ açúcar) de frutas. Descobrir frutas que goste para alimentar-se nos intervalos das principais refeições. Evite utilização diária de biscoitos, doces, salgados (estes devem ter dias estabelecidos);

3. Procurar mastigar mais devagar os alimentos, sentindo o sabor. Quem come rápido tem a tendência de comer maior quantidade de todos os alimentos;

4. Procurar diminuir a quantidade dos alimentos mais calóricos como: bolos, refrigerantes, pizza, massas, salgados, doces, amendoim, chocolates, maionese, creme de leite, salgadinhos, tortas, doces, outros. Consumir esses alimentos em dias e horários pré-estabelecidos:;

5. Retirar a gordura aparente das carnes brancas e vermelha;

6. Evitar o consumo diário de embutidos (salame, salsichas, presuntos);

7. Substituir manteiga pelo creme vegetal com pouco sal;

8. Evitar beber líquidos durante as refeições (água, refrigerantes ou sucos). Use 30 minutos antes ou 1 hora após;
9. Praticar atividade física 2 a 3 vezes na semana; andar cerca de 20 a 30 minutos por dia;

10. Retornar para avaliação a cada 30 a 40 dias relatando os excessos alimentares (freqüência a aniversários e festas). As dificuldades com alimentos apreciados é preciso considerar e substitui-los.


6. O EXERCÍICO FÍSICO TRAZ BENEFÍCIOS AOS ADOLESCENTES OBESOS?


Pesquisas relacionando a importância do exercício físico no tratamento da obesidade na infância e adolescência são muito limitadas, especialmente os benefícios a longo prazo no controle do peso.

Os estudos disponíveis sugerem que somente o exercício não é suficiente para o controle da obesidade, sendo mais eficaz a combinação de controle alimentar e exercício a longo prazo.

Essa combinação apresenta resultados positivos devido ao aumento da massa muscular, aumento da taxa metabólica basal e do gasto energético diário, resultando em efeitos desejáveis na imagem corporal e auto-estima.

A perda de peso apenas com restrição calórica, sem atividade física, determina perda de 30% da massa magra, responsável por 60% do gasto metabólico de repouso.


7. O QUE DEVE MUDAR NO ESTILO DE VIDA?


A proposta de mudança no estilo de vida sedentário requer a limitação de tempo para atividades como assistir televisão, uso de computador e vídeo games, atitude esta que pode ser mais importante do que programas de atividade física, principalmente quando o adolescente não aprecia esta prática.

A recomendação de atividade física requer algumas considerações como: que o esporte seja divertido, que a proposta seja do agrado e realizada com outros adolescentes, que a família possa participar incentivando ou praticando, não prejudique os estudos, seja desenvolvida em grupos para melhorar as relações sociais.


8.QUAIS AS RECOMENDAÇÕES PARA ATIVIDADES FÍSICAS?


Uma recomendação razoável para a maioria dos adolescentes pode ser 20 a 30 minutos/dia de atividade física moderada (caminhar, dançar, nadar ou andar de bicicleta).

O gasto energético em adolescentes pode ser mais eficientemente aumentado através do aumento das atividades diárias e recreação, do que por competição ou exercícios direcionados.

O esporte ou atividade física dispersa a ansiedade excessiva em alguns adolescentes. Adolescentes obesos geralmente apresentam problemas de adesão a programas de exercícios a longo prazo, talvez porque nessa faixa etária a preferência seja por atividades escolhidas por eles mesmos.

A escolha pessoal é importante, pois faz com que se sintam mais responsáveis pela decisão.


9. QUAIS OS FATORES DE BOM PROGNÓSTICO PARA A PERDA DE PESO DO ADOLESCENTE?


- Vontade própria em reduzir o peso;

-Participação e apoio da família;

-Bom relacionamento profissional (is) / paciente;

-Orientação alimentar de acordo com hábitos da família;

-Retornos periódicos para acompanhamento médio de 1 a 2 anos.

10. QUAIS OS FATORES DE MAU PROGNÓSTICO PARA PERDA DE PESO DO ADOLESCENTE?


- Consumo excessivo de alimentos com alta densidade calórica nos horários habituais e várias vezes na semana.

- Falta de refeições formais;

- Falta de atividade física;

- Tendência a adotar atividades de lazer sedentárias;

- Falta de sensibilização da família para o problema.

11. QUANDO A OBESIDADE ESTIVER ASSOCIADA À ANSIEDADE OU COMPULSÃO ALIMENTAR, COMO PROCEDER?

- É necessário procurar a ajuda de um profissional psicólogo especializado para diagnosticar a causa da ansiedade e juntamente com a família tratar de forma adequada à ansiedade ou compulsão.


1. Professora Titular do Departamento de Saúde – Universidade Estadual de Feira de Santana,Ba; Doutora – UNIFESP; Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas na Infância e Adolescência – NNEPA-UEFS

2. Alunos de Iniciação Científica – PIBIC, PROBIC, NNEPA-UEFS