segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A difícil e necessária arte de dizer não aos filhos






Ninguém gosta de receber um não.

A reação imediata é ficar com raiva da pessoa que está dizendo não. Seja quem for. Pai, mãe, irmão, funcionários de uma empresa, o amigo. Qualquer um.

Posteriormente pode-se mudar essa emoção inicial e considerar a situação, refletir, reavaliar. Os limites geralmente provocam raiva, e os pais devem ser capazes de encarar esse fato.

A raiva é algo comum a todos nós, embora muitas vezes a relacionemos com a culpa. No entanto, é normal e saudável sentir raiva de certas coisas.

A diferença entre adultos e crianças reside no que fazer com esse sentimento. Se os pais sentem raiva e a superam, a criança também aprenderá a manejar seus sentimentos de uma forma mais produtiva.

É importante permitir que as crianças sintam raiva e aprendam as maneiras aceitáveis de expressá-la. Ficar com medo de impor limites aos filhos poupando-os de sentir raiva, ficando frustrados momentaneamente, não é uma boa estratégia.

A realidade é mais ampla do que cada um. A realidade não se dobra às vontades individuais.

Existe uma realidade que se impõe, externa às ações humanas. E as crianças precisam aprender isso através do processo educacional. Em casa e na escola, no convívio diário com o outro.

O outro que não é ela mesma, que pode pensar e sentir de maneira diversa sobre os mesmos acontecimentos.

A falta de limites na educação de crianças e adolescentes tornou-se um problema alarmante, em conseqüência da dificuldade dos pais para dizer não aos filhos, conciliando disciplina com liberdade.

Por receio de se mostrarem rígidos e autoritários, muitos pais transferem para os filhos a responsabilidade de todas as decisões, quando, na verdade, é precisamente aos pais que cabe proteger e orientar os filhos na infância e adolescência.

Pais que se sentem culpados em dizer não acabam roubando de seus filhos a oportunidade de exercitarem suas emoções e desenvolverem sua autonomia e maturidade.

Muitos distúrbios de comportamento apresentados por crianças e adolescentes são conseqüência da incapacidade e insegurança dos pais quando se trata de impor limites.

Dizer não é um ingrediente indispensável nas relações de amor entre pais e filhos. E não o contrário, como imaginam muitos.

Amar não é sinônimo de sempre dizer sim. Isso é submissão aos desejos do outro.

Dizer sempre sim aos filhos é revelação do medo que os pais têm de perder o amor dos mesmos.

Durante a adolescência, freqüentemente, ocorrem oposições a regras, os limites sendo considerados frustrantes, mutiladores. Isso significa que deveríamos desistir deles?

O adolescente precisa voar, ser aquele que rompe as regras. A necessidade é de duas ordens. Em primeiro lugar, o jovem adolescente precisa de pais com quem possa brigar, entrar em choque.

O jovem adolescente precisa de um grau de resistência para explorar seu alcance. Isso é necessário e importante que aconteça, e não tentar ser um bom pai em demasia, no momento em que ele quer brigar com o pai mau que você é, naquele momento, na experiência dele.

Em segundo lugar, é claro que há momentos em que é preciso dizer não com firmeza.

Às vezes, seu filho realmente deseja que você o restrinja; está assustado ou preocupado com alguma coisa, mas não quer passar vergonha diante de outras pessoas ou ficar desapontado com a imagem que faz de si como alguém que é destemido.

Insistir que seus filhos concordem com você ou reconhecer que você está do mesmo lado que eles não ajuda a que se aventurem no mundo. Ter um conflito e resolve-lo sedimenta sua força.

Dizer não aos filhos é tão necessário como saber dizer sim.

São referências para que eles aprendam que no mundo das pessoas existe o proibido, o obrigatório e o permitido.

E que só há uma maneira de conhecerem cada vez mais eles mesmos, alargando suas consciências: ter referências sobre suas atitudes, sentimentos, comportamentos.

Impor limites aos filhos tem essa finalidade.

Fonte: Dizer Não – Impor limites é importante para você e seu filho – Asha Phillips – Editora Campus – 2.000.

Clínica Infanto-Juvenil Pró-Crescer: Do Feto à Adolescência.
( www.procrescer.med.br)