quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Adolescência e acne: feiúra que ameaça a auto-imagem





Quem nunca ficou diante do espelho espremendo espinhas do rosto que levante as mãos! Quero ver se debaixo das unhas não tenha resquícios do crime. Se não tiver marcas na face certamente as terá na alma.

Êta época difícil essa! Horas e horas virando a cabeça assim e assado, contorcendo o pescoço, procurando a melhor posição para espremer as danadinhas. No banheiro, nos retrovisores dos carros, nos espelhinhos miudinhos mal equilibrados sobre os joelhos, nos salões de beleza, nas miragens de alguma água calma refletindo Narciso, ou onde quer que se possa ver a face ir melhorando a apresentação. Isto quando não se oferece o rosto, os ombros e as costas para terceiros retirarem os malditos cravos e pústulas.

Somente as crianças que ainda não chegaram na puberdade estão livres do problema. Por curto tempo. Ao se vislumbrar a adolescência ver-se-á no horizonte as elevações avermelhadas espetando a imagem de cada um. Maculando o narcisismo insuflado desse período da vida, revelando a feiúra que se quer ver escondida.

Adolescência é sinônimo de acne. Espinhas mesmo. O nome é bem dado. Algo que espeta, machuca, fere, atrapalha, incomoda, dificulta namorar, ficar, conquistar alguém. Não tem jeito de esconder. Tá na cara.

A acne vulgar acomete oitenta a noventa por cento dos adolescentes em algum grau. A maior incidência ocorre entre os quatorze e dezesseis anos no sexo feminino e entre os dezesseis e dezenove no sexo masculino. É a expressão clínica de vários genes, parecendo existir uma tendência familiar, repetindo-se em gêmeos idênticos.

Não há cura estabelecida para esse problema, podendo ser diminuído seu impacto na vida do adolescente com abordagem adequada. As lesões e as cicatrizes não são só físicas, mas também psicológicas. O acometimento da imagem corporal afeta a auto-estima, torna as pessoas inseguras, pouco aceitas e infelizes, tendo influência na vida social, no desempenho escolar e, eventualmente, nas dificuldades de arrumar empregos, agravos muito importantes na adolescência.

Noventa por cento dos casos de acne podem e devem ser tratados por médicos não especialistas de pele, reservando-se os casos mais graves para esses últimos.

Embora as causas precisas da acne ainda não estejam bem estabelecidas, alguns fatores já são conhecidos e ajudam na abordagem do problema. Sabe-se que há possível predisposição genética, fatores relacionados com os hormônios, crescimento de bactérias nas glândulas sebáceas e resposta inflamatória da pessoa acometida.

Exposição excessiva a cosméticos deixam obstruídos os poros de drenagem das glândulas, piorando ao invés de ajudar. Calor excessivo, mudança de estações do ano e ocupação profissional têm influências no surgimento das lesões. A acne é resultante da estimulação das glândulas sebáceas pelos hormônios androgênicos, aumentando a produção de sebo (mistura de triglicerideos, ésteres gordurosos e esteróides.)

Não se trata de um desequilíbrio hormonal. É um fenômeno fisiológico que para alguns indivíduos faz surgir a acne. Fatores relacionados ao estresse estão frequentemente envolvidos na piora. Tensões emocionais, falta de sono e menstruação são alguns exemplos de fatores que pioram. Os cremes de limpeza, quando utilizados em excesso, podem obstruir mecanicamente os poros glandulares, piorando as marcas na face.

Há uma série de mitos relacionados à acne. Sempre aparecem conselhos com a intenção de ajudar. Uma lista de proibições alimentares apenas frusta o adolescente. Estudos recentes, bem controlados, mostram que as restrições de chocolates, coca-cola, sorvetes, alimentos gordurosos, temperos, etc., são de pouca valia e não se justificam. Cada caso deve ser cuidadosamente analisado para que restrições incorretas não causem prejuízos, principalmente para o adolescente em fase de crescimento que necessita de oferta nutricional adequada às suas necessidades.

O uso compulsivo de lavagem do rosto, ou outros locais afetados, pode levar a irritações de pele sem ser benéfico para controle de diminuição de acne, uma vez que a remoção da camada de lípides superficiais não tem efeito sobre as lesões.

A acne é classificada em quatro graus. Cabe ao médico a classificação das lesões, instituindo o tratamento mais adequado. Procurar tratamentos alternativos podem ter como consequência o surgimento de sequelas graves na vida atual e futura do adolescente. Não deixe que “pessoas entendidas do assunto”, não médicas, prescrevam medicamentos para uso tópico ou sistêmico, principalmente antibióticos.

Fonte: Clínica Infanto-Juvenil Pró-Crescer: Do feto à adolescência. (http://www.procrescer.med.br/)