segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Alimentação do lactente II




Deve-se estar atento para o grande aprendizado que esse momento de introdução de novos alimentos representa para o bebê.

A maneira como será conduzida a mudança do regime de aleitamento materno exclusivo para essa multiplicidade de opções, que ora se apresentam poderá determinar a curto, médio ou longo prazo, atitudes favoráveis ou não em relação ao hábito e comportamento alimentares.

Nessa fase inicial, seguramente, manifestar-se-ão as predisposições genéticas como a preferência pelo sabor doce, a rejeição aos sabores azedos e amargos e uma certa indiferença pelo sabor salgado.


O respeito ao tempo de adaptação aos novos alimentos, às preferências e aos volumes que desejam ser consumidos, permitirão a atuação dos mecanismos reguladores do apetite e saciedade. Estes devem ser praticados, desde a introdução, sob o risco de interferirmos negativamente na capacidade de auto-regulação da ingestão alimentar.


As evidências sugerem que, embora a ingestão em refeições individualizadas possa ser um tanto quanto irregular, o consumo energético em 24hs costuma ser adequado.


Sendo assim, atitudes excessivamente controladoras e impositivas podem induzir ao hábito de consumir porções mais volumosas do que o necessário e à preferência por alimentos hipercalóricos. Esta condição é apontada como uma das causas preocupantes do aumento das taxas de obesidade infantil que se tem observado nos últimos anos, além de também ser uma das causas de inapetência na infância.

A alimentação complementar, embora com horários mais regulares, deve inicialmente, seguir o modelo que vinha acontecendo no período do aleitamento materno, no sentido de continuar permitindo a atuação do mecanismo fisiológico da regulação da ingestão alimentar. Mantendo, assim, a percepção correta das sensações de fome e saciedade, característica imprescindível para a nutrição adequada, sem excessos ou carências.

5 - ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL


Diante da impossibilidade do aleitamento materno, deve-se utilizar uma fórmula infantil que satisfaça as necessidades do lactente, conforme recomendado. Antes do sexto mês deverá ser utilizada uma fórmula de partida e, a partir do sexto mês, recomenda-se uma fórmula infantil de seguimento.


Para as crianças em uso de fórmulas infantis modificadas, a introdução de alimentos não lácteos poderá seguir o mesmo preconizado para aquelas em aleitamento materno exclusivo (a partir dos seis meses).

Características gerais das fórmulas infantis:


Gordura: há redução da quantidade de gordura animal saturada e acréscimo de óleos vegetais (gorduras poliinsaturadas de melhor qualidade), como também o acréscimo de ácidos graxos essenciais (linoléico e alfa-linolênico).

Carboidratos: as fórmulas contêm lactose exclusiva ou associação de lactose com polímeros de glicose (malto-dextrinas), não necessitando, portanto, de adição de açúcar ou farinha.

Proteínas: há quantidade adequada de proteína com desnaturação protéica (quebra da caseína, em cadeias menores, formando proteínas solúveis e favorecendo a digestão e absorção), além de melhor relação proteína do soro/caseína.

Minerais: há modificação nos teores dos minerais tentando aproximar os seus teores aos do leite materno. A relação cálcio/fósforo é adequada, favorecendo a mineralização óssea.

Oligoelementos (vitaminas e microminerais): atendem às necessidades da criança sadia.


Características gerais do leite de vaca (“in-natura, integral, pó ou fluido”):

O leite de vaca (“in-natura”, integral, pó ou fluido) por não contemplar as características descritas acima, não é considerado alimento apropriado para crianças menores de um ano, além de apresentar as seguintes inadequações:

Gorduras: contém baixos teores de ácido linoléico (10 vezes inferior às fórmulas), sendo necessário o acréscimo de óleo vegetal para o atendimento das necessidades do recém-nascido.

Carboidratos: a sua quantidade é insuficiente, sendo necessário o acréscimo de outros açúcares, freqüentemente mais danosos à saúde, como a sacarose, com elevado poder cariogênico

Proteínas: fornece altas taxas, com conseqüente elevação da carga renal de soluto. Apresenta relação caseína/proteínas do soro inadequada, comprometendo a digestibilidade.

Minerais e eletrólitos: fornece altas taxas de sódio, contribuindo para a elevação da carga renal de solutos, deletéria principalmente para os recém-nascidos de baixo peso.

Vitaminas: baixos níveis de vitaminas D, E e C.

Oligoelementos: são fornecidas quantidades insuficientes, com baixa biodisponibilidade de todos os oligoelementos, salientando-se o ferro e o zinco.


6 - ALIMENTAÇÃO NO SEGUNDO ANO DE VIDA

No segundo ano de vida, a amamentação deve continuar, avaliando-se o risco nutricional da criança pelas condições sócio-econômicas e as condições psicológicas da dupla mãe-filho.

As refeições de sal devem ser semelhantes às dos adultos. Podem ser consumidos todos os tipos de carnes e vísceras. Deve-se estimular o consumo de frutas e verduras, lembrando que aquelas de folha verde escuro apresentam maior teor de ferro, cálcio e vitaminas.

Evitar a utilização de alimentos artificiais e corantes, assim como os “salgadinhos” e refrigerantes, lembrando que os hábitos alimentares adquiridos nesta idade mantêm-se até a vida adulta.


Deve ser incentivada a ingestão média de 500 ml de leite (preferencialmente fortificado com ferro e Vitamina A), assim como de outros derivados (iogurtes, queijos) para garantir correta oferta de cálcio.

A partir do primeiro ano, os lactentes devem ser estimulados a tomar iniciativa na seleção dos alimentos e no modo de comer.

Os alimentos podem ser segurados com a mão, assim como inicia-se o treinamento para o uso de colher e de xícara, envolvendo estímulo a coordenação e destreza motora, funcionando como importante estímulo para o desenvolvimento. Nessa fase, as crianças devem receber diariamente três refeições principais e dois lanches, em quantidade adequada.


A queixa de recusa alimentar é muito freqüente no segundo ano de vida, quando a velocidade de crescimento diminui bastante em relação ao primeiro ano e, conseqüentemente diminuem também as necessidades nutricionais e o apetite.

As crianças devem ser estimuladas a comer vários alimentos, com diferentes gostos, cores, consistência, temperaturas e texturas.

A dependência de um único alimento como o leite, ou o consumo de grandes volumes de outros líquidos como o suco, pode levar a um desequilíbrio nutricional. O sal deve ser usado com moderação.

Os tipos de alimentos escolhidos devem ser adequados à capacidade de mastigar e de engolir da criança. O tamanho das porções de alimentos devem ser ajustados com o grau de aceitação da criança.

A pirâmide alimentar para crianças de 1 a 2 anos descreve as porções sugeridas para cada grupo de alimentos .
Embora dietas com baixo teor de gordura e de colesterol sejam amplamente recomendadas
para os adultos, o Comitê de Nutrição da Academia Americana de Pediatria e o Comitê de Nutrição da Associação Americana de Cardiologia concordam que não deve haver restrição de gordura e de colesterol durante os dois primeiros anos de vida.

Ao avaliar a ingestão nutricional de uma criança, devemos aproveitar a oportunidade para verificar os hábitos e padrões alimentares da família, uma vez que esses exercem um papel fundamental no comportamento alimentar da criança.

6 - SUPLEMENTAÇÃO

6.1 - Vitaminas

A maioria das vitaminas não são sintetizadas pelo organismo e necessitam ser ingeridas por meio da alimentação. Nos casos de alimentação deficiente com riscos de carência, a vitamina deve ser utilizada sob a forma medicamentosa, principalmente nos primeiros anos de vida

A vitamina K deve ser dada ao nascimento, na dose de 0,5 a 1 mg por via intramuscular, para prevenir a doença hemorrágica.

Quanto a vitamina D, sabe-se que o leite materno contém cerca de 25UI/litro, dependendo do status materno de vitamina.

O Departamento de Nutrologia da SBP preconiza que não há necessidade de suplementação de vitamina D nas seguintes condições:

• lactentes em aleitamento materno com exposição regular ao sol;

• lactentes que recebem 500ml/dia de fórmula infantil.

Nas demais situações, recomenda a ingestão de 200UI/dia de vitamina D até 18 meses.

Entre os fatores de risco para a deficiência de vitamina D, encontram-se: deficiência materna durante a gravidez, não exposição ao sol, viver em altas latitudes, viver em áreas urbanas com prédios e/ou poluição que bloqueiam a luz solar, pigmentação cutânea escura, uso de protetor solar, variações sazonais, cobrir todo o corpo ou uso de alguns anticonvulsivantes.

Recomenda-se a exposição direta da pele à luz solar, a partir da segunda semana de vida, sendo suficiente a quota semanal de 30 minutos com a criança usando apenas fraldas (seis a oito minutos por dia, três vezes por semana), ou de duas horas/semana em exposição parcial (17 minutos por dia) com exposição apenas da face e mãos da criança.

A concentração de vitamina A no leite materno varia de acordo com a dieta da mãe. Em regiões com alta prevalência de deficiência de vitamina A, a OMS, Ministério da Saúde e SBP preconizam o seguinte esquema para suplementação medicamentosa de vitamina A, na forma de megadoses, que deve ser administrado a cada 4-6 meses:

• crianças menores de 6 meses e que são amamentadas: 50.000 UI

• crianças de 6 a 12 meses: 100.000 UI

• crianças de 12 a 72 meses 200.000 UI

6.2 - Ferro

A recomendação do Departamento de Nutrologia da SBP  quanto à suplementação de ferro  é a seguinte:

Lactentes nascidos a termo, de peso adequado para a idade gestacional, em aleitamento materno exclusivo Não indicado até 6 meses de idade.

Lactentes nascidos a termo, de peso adequado para a idade gestacional, em uso de fórmula infantil até 6 meses de idade e a partir do sexto mês se houver ingestão mínima de 500 ml de fórmula por dia: Não indicado.

Lactentes nascidos a termo, de peso adequado para a idade gestacional, a partir da introdução de alimentos complementares: 1 mg de ferro elementar/kg peso/dia até 2 anos de idade ou 25 mg de ferro alimentar por semana até 18 meses de idade (Programa Nacional de Combate à Anemia Carencial do Ministério da Saúde.)


Prematuros maiores que 1.500 g ou recém-nascidos de baixo peso (menores de 2500 gramas) , a partir de 30 dias de vida: 2 mg de ferro elementar/kg peso/dia, durante todo primeiro ano de vida. Após esse período: 1 mg/kg/dia até 2 anos de idade.


O Comitê de Nutrição da Academia Americana de Pediatria recomenda as seguintes


doses, mais elevadas no primeiro ano de vida, para recém-nascidos de extremo baixo peso (PN):


PN < 1.000g = 4 mg de ferro elementar/ Kg/ dia;

PN  < 1.000g e  <  1.500 g = 3 mg de ferro elementar/Kg/dia.

Além da prevenção medicamentosa da anemia ferropriva deve-se estar atento para

a oferta dos alimentos ricos ou fortificados com ferro (cereal, farinha, leite),

lembrando que, à partir de 18 de junho de 2004, as farinhas de trigo e de milho devem

ser fortificadas, segundo a resolução do Ministério da Saúde com 4,2 mg de ferro e 150

microgramas de ácido fólico por 100 g de farinha.


O ferro pode ser encontrado sob duas formas: heme (boa disponibilidade: carnes e

vísceras) e não heme (baixa disponibilidade: leguminosas, verduras de folhas verde

escuro). Para melhorar a absorção do ferro não heme deve-se introduzir os agentes

facilitadores, como carnes e vitamina C e evitar os agentes inibidores, como refrigerantes

e chás.



7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS



1 - Para alimentar de forma saudável o lactente deve-se seguir os dez passos preconizados

pelo MS/OPAS e SBP.(Vide, neste Blog : alimentação do lactente I)

2 - A introdução dos alimentos complementares deve seguir o seguinte esquema:

- até sexto mês: apenas leite materno;

- após: continuar com leite materno e introduzir papa de frutas;

- 6 ao 7 meses :  primeira papa salgada, ovo e suco de fruta;

- 7 ao 8 meses : segunda papa salgada;

- 9 ao 11 meses :  gradativamente passar para a comida da família, desde que adequada;

- 12 meses :  comida da família.


3 - Os alimentos, na mistura, devem conter : cereal ou tubérculo, alimento protéico de origem animal,   leguminosas e hortaliças (misturas múltpilas).

4 - Estimular o consumo de água potável, frutas e sucos. Os sucos naturais devem

ser usados preferencialmente após as refeições principais, em quantidade máxima

de 240ml/dia.

5 - Diante da impossibilidade do aleitamento materno, deve-se utilizar fórmula

infantil que satisfaça às necessidades deste grupo etário. Antes do sexto mês

as fórmulas de partida e após esta idade, fórmulas de seguimento.


6 - Estimular o consumo de leite (500ml/dia), assim como de seus derivados visando

a boa oferta de cálcio, no segundo ano de vida.


7 - Administrar vitamina K a todo recém-nascido ao nascimento, na dose de 0,5 a 1,0 mg por via intramuscular.


8 - Administrar 200 UI/dia de vitamina D a todos os lactentes que recebem leite

materno ou menos que 500ml de fórmula infantil e que não tenham exposição


ao sol.



9 - Administrar vitamina A nas regiões de alta prevalência de hipovitaminose A, a

cada 4 - 6 meses.


10 - Administrar sulfato ferroso para todo lactente, nascido a termo, que não estiver

em aleitamento materno exclusivo ou em uso de fórmula infantil fortificada,

na dose de 1mg/kg/dia até os dois anos de idade. Para os nascidos prematuramente

(com peso maior que 1500g) ou de baixo peso (menor que 2500 grs) , a partir do 30º dia de

vida, na dose de 2mg/kg/dia no primeiro ano, seguido por 1mg/kg/dia até dois anos de idade.

8 - FONTE

MANUAL DE ALIMENTAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP)