terça-feira, 24 de novembro de 2009

Alergia alimentar










Esse menino teve convolução porque misturou manga com leite, doutor. Eu falei pra ele, mas não adiantou nada. É muito teimoso. O povo de hoje não acredita em nada que o povo antigo fala.

Minha mãe...  E aí a avó discorre sobre o que sua mãe falava e ensinava a respeito dos alimentos.

Será verdade que não se pode misturar manga com leite, ou ovo com outras frutas, ou abacaxi com isso, com aquilo; onde está a verdade? Essa mistura causa alergia alimentar?

A CRENÇA DOS FAMILIARES

Uma pessoa ingere, durante toda sua vida, cerca de duas a três toneladas de alimentos! Não causa surpresa o fato de muitas doenças serem associadas, indevidamente, aos alimentos.

Na maioria das vezes existe uma simples coincidência entre o surgimento de uma doença e a proximidade da ingestão alimentar. Isso poderá levar a erro de interpretação por parte de familiares, do paciente, e até do médico.

Essas associações indevidas são transmitidas para as gerações seguintes, na pressa de compreender os fenômenos envolvidos nas doenças.

De cada três pessoas, uma acredita ser portadora de alergia alimentar; desta forma, a suposição de alergia é bem mais freqüente do que a real incidência do distúrbio.

CONSEQUÊNCIAS DESSAS CRENÇAS

O diagnóstico excessivo de alergia alimentar acarreta um custo financeiro desnecessário para a família, traz riscos de transtornos nutricionais e de possíveis danos psicológicos.

Por outro lado, deixar de identificar um paciente com verdadeira alergia alimentar significa prolongar o sofrimento do mesmo, com conseqüente repercussão nutricional e até risco de vida nos casos de reação intensa e imediata.

INTOLERÂNCIA ALIMENTAR

Não é o mesmo que alergia alimentar. Para ser alergia é necessária a comprovação, através de exames complementares, de reação imunológica por parte do organismo.

Intolerância é uma resposta fisiológica anormal, de natureza não imunológica. Isto é, o organismo não produz nenhum anticorpo contra aquele alimento em questão.

A intolerância é muito mais comum do que a alergia e pode ser causada pela presença de substâncias tóxicas, produtos químicos ou microorganismos causadores de doença presentes no alimento, resultando em sintomas clínicos.

EXEMPLOS DE INTOLERÂNCIA ALIMENTAR

Enxaqueca após liberação de uma substância química chamada tiramina existente em alguns queijos; o nervosismo após ingestão de cafeína; algumas reações na pele após a ingestão de morangos; a diarréia com mal-estar por intolerância à lactose, após ingestão do leite.

ALERGIA ALIMENTAR

É uma resposta imunológica anormal a um determinado alimento que resulta em sintomas clínicos. É necessário que o organismo produza substâncias químicas chamadas de anticorpos contra aquele alimento em questão.

A alergia alimentar é doença comum em crianças pequenas e em pessoas atópicas (que tenham asma, ou eczema atópico, ou rinite alérgica).

A prevalência é estimada em torno de 2,5% nos três primeiros anos de vida e em taxas inferiores a 1,5% nos escolares, adolescentes e adultos.


ALIMENTOS MAIS COMUNS QUE CAUSAM ALERGIA

Ovo, leite, soja e trigo são responsáveis por mais de 90% das reações alérgicas em crianças, enquanto peixe, camarão e amendoim são os alérgenos alimentares mais comuns nos adolescentes e adultos.

Vêm aumentando os relatos de alergia a frutas como kiwi e mamão, bem como a sementes de girassol, milho e canola. O chocolate, tão culpado pelas mães, não tem essa suposta importância.

O alimento que com maior freqüência causa alergia alimentar nos três primeiros anos de vida é o leite de vaca, seguido pelo ovo. O cozimento ou a fritura são, em boa parte dos casos (ovo, leite e outros) ineficazes para reduzir a alergenicidade.

DIAGNÓSTICO

O principal é uma boa historia clínica, com um diário alimentar, relacionando o aparecimento de sintomas com determinado alimento, com a finalidade de identificar a relação verdadeira entre a ingestão alimentar e o surgimento dos sintomas.

No caso de aleitamento materno exclusivo, pesquisa-se a presença de alérgenos na dieta materna.

Os aditivos e corantes não são causas comuns de alergia alimentar como se pensava até há pouco tempo.

Testes cutâneos ou outros testes diagnósticos serão pedidos pelo médico após análise cuidadosa de cada caso em particular.

PREVENÇÃO

O leite menos alergenico para os humanos é o próprio leite materno. O colostro e o leite humano ajudam a formar as barreiras imunológicas e não imunológicas do intestino.

Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade é uma excelente prevenção de alergia alimentar.

No momento atual são prioritárias as pesquisas relativas ao desenvolvimento de fórmulas com maiores reduções de alergenicidade, melhor sabor, menor custo e mais acessíveis.



Fontes: PRONAP – Programa Nacional de Atualização Pediátrica – Sociedade Brasileira de Pediatria.
              Clínica Infanto-Juvenil Pró-Crescer: Do Feto à Adolescência (http://www.procrescer.med.br/)