quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Tosse: o que fazer?



1)POR QUE A CRIANÇA TOSSE?


Tosse é uma queixa freqüente nos consultórios pediátricos. Faz parte dos sintomas de várias patologias, principalmente do sistema respiratório (vias aéreas superiores e inferiores).

Tosse é um reflexo que tem um papel protetor essencial: manter a permeabilidade das vias aéreas, removendo o excesso de secreções, exsudatos e as substâncias estranhas inaladas acidentalmente pela criança.

Existem locais no organismo chamados de receptores da tosse, que quando estimulados, desencadearão a expulsão violenta do ar através das vias aéreas, fenômeno que chamamos de tosse. Esses receptores estão localizados tanto nas vias aéreas superiores quanto nas vias aéreas inferiores, e em outros locais tais como o canal auditivo, a membrana timpânica, os seios paranasais, nariz, pericárdio (membrana que envolve o coração, pleura (que envolve os pulmões), estômago e diafragma (músculo que separa o abdome do tórax).

Esses receptores podem ser ativados por irritantes físicos, químicos ou térmicos, tais como poeira, conteúdo gástrico, muco excessivo, resfriamentos, ressecamento, compressão das vias aéreas, etc.

Esses receptores enviam mensagens nervosas para o centro da tosse localizado na medula espinhal, de onde são transmitidos os impulsos nervosos de volta para a laringe, árvores traqueobrônquica e músculos expiratórios, provocando a tosse.


2)CAUSAS MAIS FREQUENTES DE TOSSE NA INFÂNCIA

É importante que os pais forneçam para o pediatra detalhes importantes sobre a história da tosse. Sua duração, freqüência, horário característico da tosse, as condições que a melhoram ou pioram, assim como sinais e sintomas respiratórios (falta de ar, rouquidão, gemência, etc), ou gerais, com febre, prostração, falta de apetite, alergia, diarréia crônica, emagrecimento. A historia familiar é muito importante, em busca de doenças hereditárias, (como a asma ou outras doenças alérgicas), fibrose cística, tuberculose ou qualquer doença pulmonar crônica.

As condições ambientais onde a criança vive (casa, quarto, escola, condições climáticas, contato com animais de pêlo, exposição a outros alergenos) e contato com doenças infecto-contagiosas na creche, na escola, em familiares e vizinhos.

As causas mais frequentes de tosse na infância são: 1) infecções de vias aéreas superiores, sendo os resfriados comuns e as gripes provocadas pelos vírus os agentes causadores vistos no dia a dia dos consultórios; 2) aspiração de irritantes e alergenos do meio ambiente, tais como poeira, fumaça de cigarro (fumantes passivos, como as crianças ou ativos, como os adolescentes; 3) sinusites agudas, que podem manifestar-se somente como tosse irritativa, seca, noturna, com duração de mais de 15 dias, principalmente após os resfriados que se prolongam por mais de 10 dias; 4) rinite alérgica; 5) asma; 6) pneumonias; 7) incoordenação de deglutição de líquidos e alimentos; 8) refluxo gastroesofágico; 9) aspiração de corpo estranho; 10) cardiopatias congênitas; 11) tuberculose; 12) laringites e 13) tosses de origem psicogênica (deve ser considerada nos escolares e adolescentes com tosse de duração de semanas ou meses, refratária a qualquer tratamento, desaparecendo caracteristicamente durante o sono).

3)SINAIS DE ALERTA PARA OS PAIS

Há algumas situações nas quais a tosse faz parte dos sintomas de doenças graves, que merecem tratamento de urgência nos casos agudos ou investigação detalhada nos casos crônicos.

DIANTE DESSES SINAIS DE ALERTA O PEDIATRA DEVEVERÁ SER IMEDIATAMENTE PROCURADO.

São sinais de alerta:

. estridor laríngeo – barulho alto, estridente, de tonalidade rouca ou não, acompanhado de esforço respiratório nítido;

. crises de cianose ou palidez – boca roxa, lábios azulados, pontos dos dedos azulados;

. gemência, prostração;

. sonolência ou agitação;

. episódios de parada respiratória;

. exaustão;

. eliminação de sangue pelas vias respiratórias;

. respiração rápida e com dificuldade para puxar o ar persistente;

. febre persistente;

. tosse por seis semanas (um mês e meio) ou mais;

. perda crônica de peso ou crescimento pondero-estatural deficiente (peso e altura) ;

. catarro purulento crônico;

. anormalidades persistentes no R-x;

. fezes líquidas e gordurosas;

. limitação progressivas das atividades da criança;

. ausência de resposta ao uso de antibióticos na suspeita de infecção;

. ausência de resposta ao uso de drogas broncodilatadoras, na suspeita de alergia respiratória.

4)TRATAMENTO

Cabe ao pediatra fazer o diagnóstico correto da provável causa da tosse, quando o tratamento será mais efetivo.

Algumas medidas caseiras poderão ser tomadas: 1) fluidificação de secreções: hidratação oral freqüente, principalmente com água pura (os familiares não têm muita fé em dar mais água para seus filhos). Desejam é a prescrição de remédios (principalmente xaropes e antitussígenos). Vaporização ou nebulizações ajudam na saturação do ar ambiente do quarto, sendo que a micronebulização atinge melhor as vias aéreas inferiores, como os brônquios de menor calibre. Os expectorantes e fluidificantes são de uso bastante discutido, cabendo ao pediatra selecionar quais, em que condições, e por quanto tempo utilizar. 2) Medicação caseira: Coloque duas colheres das de sopa de açúcar em uma xícara de água quente e meio limão, dadas na quantidade de uma ou duas colheres das de chá três a quatro vezes ao dia, podem ajudar na sedação da tosse. Ou uma colher das de chá ou de sobremesa de mel com algumas gotas de limão, várias vezes ao dia (método mais fácil do que o anterior). Alguns autores recomendam acrescentar algumas gotas de uísque ou outra bebida semelhante, principalmente à noite. Outras preparações caseiras (xarope de alho e agrião com mel, gordura de galinha ou caldo de frango com alho) gozam de grande prestígio popular, mas seus efeitos não são comprovados e podem levar à intolerância gástrica e intestinal.

3) Fisioterapia respiratória é bastante útil, e deverá ser orientado por fisioterapeutas para obtenção de um melhor resultado; 4) Sedativos da tosse têm sua indicação restrita em pediatria, devendo ser adequadamente prescritos somente pelos pediatras, evitando-se seguir “receitas” dos balconistas de farmácias; 5) Antibióticos são indicados somente nos casos de infecção bacteriana, devendo-se evitar seu uso abusivo em casos de resfriados comuns ou outras doenças sabidamente provocadas por vírus; 6) Anti-hsitamínicos: uso restrito nos casos de alergia respiratória, devendo somente ser prescrito pelo pediatra; 7) descongestionantes locais ou sistêmicos não têm eficácia comprovada em crianças, devendo ser evitados.

5)CONCLUSÃO: RECADO AOS PAIS, AVÓS E/OU RESPONSÁVEIS.

Muitos pais, avós, vizinhos ou responsáveis, ficam mais incomodados com a tosse das crianças do que as mesmas. Chegam cansados em casa após o trabalho e não conseguem dormir pela tosse irritativa dos filhos, e querem logo um xarope ou algo que acabe com o incômodo. Tosse é o cão de guarda dos pulmões. A tosse vem de Deus, os catarros do Diabo, lembram alguns. Portanto, os pais devem controlar sua ansiedade e desejo de acabar logo com o problema. Tossir, a princípio é bom. Somente o pediatra saberá conduzir melhor caso a caso. Evitem medidas intempestivas. Nem sempre é a melhor solução para seus filhos.

Fonte: Pediatria Ambulatorial – COOPMED – Quarta Edição

Clínica Infanto-Juvenil Pró-Crescer – Do feto à Adolescência. (http://www.procrescer.med.br/)