quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ética para adolescentes: uma luz na escuridão





Que mundo vocês, os adolescentes, herdarão de nós, os adultos? O escarrado pela mídia, ávida por más notícias, tal qual urubu sobrevoando carniça, onde perdura a mentira como valor de troca e a corrupção como meio de vida? Que mundo é esse repetidamente mostrado até a exaustão? Virou norma passar o outro para trás numa boa sem maiores conseqüências?

Quem é esse outro? É meu pai, minha mãe, meu irmão, meus amigos, o outro. Aquele que não sou eu. Aquele que me dá referências de mim. Ele é importante? Ou o mundo é um mero prolongamento do nosso umbigo para o qual todos os olhares devem se voltar?

Uma regra de ouro na convivência humana é saber se colocar no lugar do outro. Fazer a ele o que desejo que ele me faça. É ético, valoroso, dá substância nas relações humanas.

O que é Ética? Artigo fora de moda? Algo teórico inventado por civilizações antigas só para incomodar? Assunto para passar o tempo entre filósofos?

Ética,  afinal de contas, o que vem a ser isso...

Ética é a arte de viver bem, cuja finalidade não é fabricar cidadãos bem-pensantes (muito menos mal pensados). Mas estimular o desenvolvimento de livres-pensadores, dos que têm na busca da verdade um instrumento para se construir seres livres.

A liberdade não é uma filosofia e nem sequer uma idéia. É um movimento da consciência que nos leva, em certos momentos, a pronunciar dois monossílabos: sim ou não.

Não somos livres para escolher o que nos acontece. Termos nascidos em determinado dia, de determinados pais, num determinado país. Termos um câncer ou sermos atropelados por um carro. Sermos feios ou bonitos. Mas somos livres para responder ao que nos acontece de um ou outro modo. Obedecer ou nos rebelar. Ser prudentes ou temerários. Vingativos ou resignados. Vestir-nos na moda ou nos fantasiar de urso das cavernas.

Na realidade, existem muitas forças que limitam nossa liberdade, desde terremotos e doenças até políticos tiranos. Mas nossa liberdade também é uma força no mundo. Nossa força. Muita gente pode se perguntar: liberdade? Mas de que liberdade você está falando? Como podemos ser livres se nos fazem a cabeça através da televisão, se os governantes nos enganam e nos manipulam, se os terroristas nos ameaçam, se as drogas nos escravizam e, se, além de tudo, não tenho dinheiro para comprar uma moto, que é o que eu desejaria?

Se você prestar um pouco de atenção, verá que aqueles que falam assim parecem estar se queixando. Na verdade, estão muito satisfeitos por saber que não são livres. No fundo, eles pensam: Ufa! Que pesos tiram de cima de nós! Como não somos livres, não podemos ter a culpa de nada que nos aconteça.

Ser ético é construir nossa liberdade. É desejar conviver entre seres livres.

COMO SE CONSTRÓI A LIBERDADE?

Um bom instrumento para se construir e manter nossa liberdade é ter a busca da verdade como norma. A verdade nos fará seres livres, diz a promessa evangélica. A mentira nos aprisiona.

Uma grande parte dos males desse mundo, aqueles que são em princípio evitados porque dependem das condutas humanas e não da estrutura da realidade, procedem das más relações com a verdade. Alguns podem chegar a ter aversão a ela, que passa a ser considerada como um inimigo que deverá ser evitado ou destruído.

A liberdade é uma conseqüência da verdade, de seu descobrimento e aceitação.

Ser ético é ter a procura da verdade como norma nas convivências humanas.

Ao contrário de outros seres, animados ou inanimados, nós homens podemos inventar e escolher, em parte, nossa forma de vida. Podemos optar pelo que nos parece bom, ou seja, conveniente para nós, em oposição ao que nos parece mal e inconveniente. Como podemos inventar e escolher, nós podemos enganar, a nós e aos outros. O que não acontece com os cachorros, com as abelhas ou os castores.

De modo que parece prudente atentarmos bem para o que fazemos, para o exercício da nossa liberdade, procurando adquirir um certo saber viver que nos permita acertar, não passar a perna na realidade. Não passar a perna no outro. E o que é pior, em nós mesmos.

Esse é o mais precioso legado da humanidade para os que virão. O aprendizado da arte do bem viver.

Da Ética na convivência entre seres livres. Entre pais e filhos. Entre colegas de juventude, entre amigos. Entre cidadãos. Ter o escrupuloso respeito pela verdade. Amar a liberdade.

E não ter como herança as excrescências e mentiras dos que têm como norma o domínio do mundo, a subserviência do outro, a escravidão em nome do poder.

Leituras recomendadas: Ética Para Meu Filho – Fernando Savater – Editora Martins Fontes.


Tratado sobre la convivência – Julián Marías - Concórdia sin acuerdo – Ediciones Martinez Roca

Clínica Infanto-Juvenil Pró-Crescer: Do Feto à Adolescência. (http://www.procrescer.med.br/)