domingo, 29 de novembro de 2009

Convulsão febril: medo que assombra os pais





1) O QUE É CRISE EPILÉPTICA?

É um evento neurológico resultante de uma descarga elétrica anormal, excessiva e síncrona (que ocorre ao mesmo tempo), de um grupamento de neurônios (células do cérebro).

Ocorre de modo espontâneo ou secundário a eventos externos, como febre, distúrbios hidroeletrolíticos (perda de líquidos e eletrólitos pelo organismo) ou mesmo um quadro de afecção que acomete o próprio sistema nervoso central (meningoencefalite, intoxicações, etc).

2) O QUE É CONVULSÃO?

É uma crise epiléptica com manifestações motoras do organismo, tais como contrações musculares, revirar de olhos, torção do pescoço para o mesmo lado de forma rítmica e repetida, perda do tônus muscular com quedas ao solo, etc.

Habitualmente há perda simultânea da consciência.


3) O QUE É CRISE CONVULSIVA FEBRIL?

Convulsão febril (CF) ocorre na infância, geralmente entre os 3 meses e 5 anos de idade, associada à febre, na ausência de infecção intracraniana ou de outra causa neurológica definida, excluindo-se as crianças que tenham tido previamente convulsões afebris.

Crise convulsiva febril não deve ser confundida com epilepsia, que se caracteriza por crises epilépticas afebris recorrentes.

4) QUAIS OS TIPOS DE CRISES CONVULSIVAS FEBRIS?

Podem ser de dois tipos:

1) simples (uma única crise com contrações generalizadas com duração geralmente ao redor de 5 minutos – (o que é uma eternidade para os pais)!). Oitenta por cento das crises febris são desse tipo;

2) complexa ou complicada (crises com contrações localizadas e/ou com duração maior que 15 minutos e/ou se recorrer em menos de 24 horas e/ou com manifestações neurológicas pós-crises)


5) A CRISE CONVULSIVA FEBRIL É MUITO FREQUENTE?

A incidência varia de 1 a 4%, dependendo do estudo. O único levantamento feito na América do Sul foi realizado no Chile, e apontou a incidência de 4%, valor que mais se aproxima de nossa realidade.

6) POR QUE AS CRIANÇAS TÊM CRISES CONVULSIVAS DURANTE A FEBRE?

O cérebro da criança está em desenvolvimento, e tem um baixo limiar das células do córtex para desencadear estímulos elétricos anormais, que serão transmitidos ao corpo, levando às contrações musculares.

A criança nessa faixa etária é muito susceptível a infecções e tem propensão para desenvolver febre alta que, quando aliada a uma predisposição genética, facilitam o desenvolvimento das crises convulsivas.

Acredita-se que o rápido aumento da temperatura seja um fator desencadeante da crise convulsiva, mas até hoje não está claro se isso é mais importante do que a alta temperatura atingida.


7) DEVE-SE FAZER PUNÇÃO LOMBAR EM CRIANÇAS COM CRISE CONVULSIVA FEBRIL?

Essa decisão é do pediatra que atende a criança, utilizando critérios bem definidos pela literatura médica.

A Academia Americana de Pediatria recomenda que, após a ocorrência da primeira crise com febre em lactentes abaixo de 12 meses, a realização da punção lombar para afastar a possibilidade de meningite deve ser fortemente considerada e, em uma criança entre 12 e 18 meses, a indicação, apesar de não ser tão forte, ainda assim deve ser considerada.

Acima de 18 meses, a punção lombar é recomendada na presença de sinais e sintomas meníngeos (febre, vômitos, rigidez de nuca, abaulamento da fontanela anterior), ou quando existe suspeita clínica de infecção intracraniana.


8) CRISE CONVULSIVA FEBRIL TRAZ DEFICIÊNCIA MENTAL OU EPILEPSIA?

A crise convulsiva febril é entidade de caráter benigno. Nenhum óbito até hoje foi atribuído à convulsão febril de per si. A crise convulsiva febril benigna não se associa a déficits intelectuais, bem como a seqüelas motoras.

A chance de epilepsia na população que apresenta crise convulsiva febril é um pouco maior que a esperada para a população em geral, ficando ao redor de 2 a 7% em acompanhamento em longo prazo.

Para as crianças que tiveram as três características de crise complexa (crise focal, prolongada e recorrente em 24 horas), o risco foi de 49%.

9) QUAL A CHANCE DE RECORRÊNCIA DA CRISE CONVULSIVA FEBRIL?

Setenta por cento das crianças terão apenas uma crise, 20% delas terão duas crises, e apenas 10% terão chance de ter várias crises convulsivas febris.

Quais são as crianças que terão chance de ter várias crises?

Aquelas de idade inferior a 18 meses (1 ano e 6 meses), historia familiar de crise convulsiva febril e duração da febre menor do que uma hora antes da primeira crise convulsiva febril.


10) TRATAMENTO PROFILÁTICO: A QUEM INSTITUIR E QUAL A MELHOR MEDICAÇÃO?


Muitos autores acreditam que não se precisa considerar a necessidade de tratamento profilático para crise convulsiva febril.

Entretanto, entre os que consideram que devem ser tratadas apenas as crianças com fator preditivo para recorrência, aparece a dúvida de qual seria a melhor escolha terapêutica: a profilaxia contínua com fenobarbital e valproato, ou a intermitente com benzodiazepínicos.

A profilaxia com fenobarbital apresenta efeitos colaterais inconvenientes, que ocorrem em até 60% dos usuários, tais como hiperatividade, irritabilidade, distúrbio do sono e aparente risco de decréscimo do quociente de inteligência (QI).

O valproato apresenta risco de hepatite fulminante, efeito colateral raro, mas que limita o seu uso particularmente em crianças pequenas, principalmente numa entidade tão benigna como crise convulsiva febril. Além disso, o valproato poderá causar intolerância gástrica, ganho de peso e queda de cabelo.

Atualmente só há uma condição clara para indicar a profilaxia contínua. Isso ocorre quando a elevação da temperatura é tão rápida que a mãe ou cuidador não conseguem notar o surgimento da febre, e esta é detectada após a ocorrência da convulsão.

Nesses casos, que felizmente não são freqüentes, a rápida elevação da temperatura dificulta o uso de uma medicação intermitente, cuja administração depende da detecção do início do quadro febril.


11) CONCLUSÃO


A melhor profilaxia atualmente indicada é o uso de medicamentos anticonvulsivantes somente nos períodos de febre da criança que já teve uma primeira crise convulsiva febril e tem os critérios indicados acima para maior chance de recorrência.

Os medicamentos utilizados são os benzodiazepínicos (diazepam ou clobazam), que devem ser iniciados assim que a criança iniciar uma doença febril aguda, devendo ser utilizados de 12/12 horas, e por até 24 horas até ter cessado a febre. Geralmente esse período é de 5 a 7 dias.

Essa conduta será utilizada até uma idade em que a probabilidade de ter convulsão pela febre é mínima ou inexistente.

As doses serão indicadas pelo pediatra ou neurologista que esteja acompanhando a criança. É claro que todos os cuidados habituais com uma criança febril deverão ser tomados, como o uso normal de antitérmicos e outras medidas cabíveis indicadas pelo pediatra.

Fontes: Suplemento do Jormal de Pediatria – Neurologia Infantil - JPED – Sociedade Brasileira de Pediatria.


Clínica Infanto-Juvenil Pró-Crescer: Do feto à Adolescência. (http://www.procrescer.med.br/)