segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Alimentação do lactente I



1 – INTRODUÇÃO

O conhecimento correto e atualizado sobre a alimentação da criança sadia é essencial para a avaliação e a orientação adequadas sobre sua nutrição.

Boas práticas alimentares irão fornecer, em quantidade e qualidade, alimentos adequados para suprir as necessidades nutricionais definidas pelo crescimento e desenvolvimento da criança, apresentando-os em consistência adequada, para assim proteger suas vias aéreas contra a aspiração, não excedendo a capacidade funcional dos sistemas orgânicos (cardio-vascular, digestório e renal).

O consumo precoce de alimentos complementares interfere na manutenção do aleitamento materno. Muitas vezes, estes alimentos não suprem as necessidades nutricionais dessa faixa etária, na qual a velocidade de crescimento é elevada, tornando os lactentes mais vulneráveis tanto à desnutrição quanto a deficiências de certos micronutrientes.

O Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria adota a recomendação da OMS, que preconiza o uso de leite materno exclusivo até os seis meses de idade. A partir deste período, está indicada a introdução de alimentos complementares, e deve-se promover a manutenção da amamentação até os dois anos ou mais.

O Ministério da Saúde/OPAS e a Sociedade Brasileira de Pediatria estabeleceram, para crianças menores de dois anos, dez passos para a alimentação saudável.

Passo 1. Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos.

Passo 2. A partir dos seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais.

Passo 3. Após os seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas, legumes), três vezes ao dia, se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia, se estiver desmamada.

Passo 4. A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.

Passo 5. A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família.

Passo 6. Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida.

Passo 7. Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.

Passo 8. Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.

Passo 9. Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados.

Passo 10. Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação.

2 - ALEITAMENTO MATERNO

Deve-se iniciar o aleitamento materno sob regime de livre demanda, imediatamente após o parto, sem horários pré-fixados estando a mãe em boas condições e o recém nascido com manifestação ativa de sucção e choro.

São poucas as contra-indicações absolutas ao aleitamento materno, que podem ser consultadas no endereço eletrônico (“site”) da Sociedade Brasileira de Pediatria -

Departamento Científico - Aleitamento Materno www.sbp.com.br.

3 - ALIMENTOS COMPLEMENTARES


A partir dos seis meses, o uso exclusivo de leite materno não supre todas as necessidades nutricionais da criança, sendo necessária a introdução de alimentos complementares.

Também é a partir dessa idade que a maioria das crianças atinge estágio de desenvolvimento geral e neurológico (mastigação, deglutição, digestão e excreção), que as habilitam a receber outros alimentos além do leite materno

Alimentação complementar é o conjunto de outros alimentos, além do leite materno oferecidos durante o período de aleitamento. Esta definição abrange inclusive alimentos inadequados à saúde da criança, como: chás, água açucarada, leite em pó erroneamente diluído, sopas diluídas, entre outro

Os alimentos complementares, anteriormente designados “alimentos de desmame”, podem ser chamados de transicionais, quando são especialmente preparados para a criança pequena até que ela possa receber os alimentos consumidos pela família (em torno dos 9-11 meses de idade). Alimentos utilizados pela família (modificados ou simplesmente alimentos da família) são aqueles do hábito familiar, porém modificados na consistência para adequar à maturação da criança. Devem ser oferecidos, inicialmente, em forma de papa, passando para pequenos pedaços e, após os doze meses, na mesma consistência dos alimentos consumidos pela família. Neste momento, cabe ao pediatra avaliar os alimentos consumidos pela família.

O termo “alimentos de desmame” deve ser evitado, por sugerir que o objetivo será a completa interrupção do aleitamento materno e não a sua manutenção, mesmo com a introdução de novos alimentos.

O período de introdução da alimentação complementar é de elevado risco para a criança, tanto pela oferta de alimentos inadequados, quanto pelo risco de sua contaminação devido a manipulação/preparo inadequados, favorecendo a ocorrência de doença diarréica e desnutrição. Oferecer adequada orientação para as mães, durante este período, é de fundamental importância e deve ser realizada por profissionais da área de saúde.

É necessário lembrar que a introdução dos alimentos complementares deve ser gradual, sob a forma de papas, oferecidos com a colher.

É importante oferecer água potável, porque os alimentos oferecidos ao lactente apresentam maior sobrecarga de solutos para os rins.

A composição da dieta deve ser variada e fornecer todos os tipos de nutrientes.

As recomendações nutricionais para crianças menores de dois anos de idade têm sido constantemente revistas por grupos de especialistas bem como diferentes parâmetros têm sido usados para o cálculo das necessidades calóricas diárias por faixa etária, considerando o gasto total de energia e a energia necessária para o crescimento.

Não há uma definição de proporção de macronutrientes em relação à oferta energética total para crianças até 1 ano de idade.

4 - ALIMENTAÇÃO A PARTIR DOS 6 MESES DE VIDA EM ALEITAMENTO MATERNO

A partir desta idade, o aleitamento materno deve ser mantido, porém não exclusivo.

Naqueles casos em que o aleitamento materno não é possível, deve-se usar fórmula infantil de seguimento.

Deve ser pesquisada a história familiar de atopia e/ou reações alérgicas antes da introdução de novos alimentos.

As frutas devem ser oferecidas nesta idade, preferencialmente sob a forma de papas e sucos, sempre em colheradas. O tipo de fruta a ser oferecido terá de respeitar as características regionais, custo, estação do ano e a presença de fibras, lembrando que nenhuma fruta é contra-indicada. Os sucos naturais devem ser usados preferencialmente após as refeições principais, e não em substituição a estas, em uma dose máxima de 240ml/dia.

A primeira papa salgada deve ser oferecida, entre o sexto e sétimo mês, no horário de almoço ou jantar, podendo ser utilizados os mesmos alimentos da família, desde que adequados às características do lactente, completando-se a refeição com a amamentação, enquanto não houver boa aceitação.
Tal refeição deve conter alimentos dos seguintes grupos :

• cereais e tubérculos;

• leguminosas;

• carne (vaca, frango, porco, peixe ou vísceras, em especial, o fígado);

• hortaliças (verduras e legumes).

Óleo vegetal (preferencialmente de soja) e sal devem ser usados em menor quantidade, assim como, deve-se evitar caldos e temperos industrializados.

Dá-se preferência às composições de cardápios onde se encontrem um tubérculo ou cereal associado à leguminosa, proteína de origem animal e hortaliça ou vegetal. A papa deve ser amassada, sem peneirar, nem liquefazer. A carne não deve ser retirada, mas sim, picada e oferecida à criança.

Entre sete e oito meses, respeitando-se a evolução da criança, deverá ser introduzida a segunda refeição de sal. Assim que possível, os alimentos não precisam ser muito amassados, evitando-se, desta forma, a administração de alimentos muito diluídos e propiciar oferta calórica adequada.

A criança amamentada deve receber três refeições ao dia (duas papas de sal e uma de fruta) e aquela não amamentada, seis refeições (duas papas de sal, uma de fruta e três de leite).

Deve-se evitar alimentos industrializados (refrigerantes, café e chás contendo xantinas, embutidos, dentre outros).

No primeiro ano de vida não usar mel. Nessa faixa etária, os esporos do Clostridium botulinum, capazes de produzir toxinas na luz intestinal, podem causar botulismo.

Planejamento da papa salgada:

Os alimentos na mistura devem conter os seguintes grupos alimentares: cereal ou tubérculo, alimento protéico de origem animal, leguminosas e hortaliças. O tamanho destas porções segue a proposta da pirâmide dos alimentos.

COMPONENTES DAS MISTURAS


Cereal ou tubérculo Leguminosa Proteína animal Hortaliças

Arroz Feijão Carne de boi Verduras

Milho Soja Vísceras Legumes

Macarrão Ervilha Frango

Batata Lentilhas Ovos

Mandioca Grão de bico Peixe

Inhame

Cará

Legumes são vegetais cuja parte comestível não são folhas. Por exemplo: cenoura, beterraba, abóbora, chuchu, vagem, berinjela, pimentão.

Hortaliças: são vegetais cuja parte comestível são as folhas. Por exemplo: agrião, alface, taioba, espinafre, serralha, beldroega, acelga, almeirão.

Os tubérculos são caules curtos e grossos, ricos em carboidratos. Por exemplo: batata, mandioca, cará, inhame.

Recomenda-se que os alimentos sejam oferecidos separadamente, para que a criança identifique os vários sabores e, desta forma, aceite-os.

Não se deve acrescentar açúcar ou leite nas papas (na tentativa de melhorar a sua aceitação), pois podem prejudicar a adaptação da criança às modificações de sabor e consistência das dietas. A exposição freqüente a um determinado alimento facilita a sua aceitação. Em média, são necessárias de 8 a 10 exposições ao alimento para que ele seja aceito pela criança.

O ovo inteiro pode ser introduzido, sempre cozido, após o sexto mês.

Esquema para introdução dos alimentos complementares

Faixa etária Tipo de alimento

Até 6º mês Leite materno

6º mês Leite materno, papa de frutas

6º ao 7º mês primeira papa salgada, ovo, suco de frutas

7º ao 8º mês Segunda papa salgada

9º ao 11º mês Gradativamente passar para a comida da família

12º mês Comida da família

FONTE: MANUAL DE ALIMENTAÇÃO - SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA