terça-feira, 3 de novembro de 2009

Assaduras na infância




- Esse menino tá todo assado, doutor, não sei mais o que faço. Já usei todas as pomadas que me ensinaram, já comprei fraldas descartáveis sem poder, porque são muito caras... mandei benzer, passei maizena; lambrequei o menino com aquele remédio azul que mancha a roupa toda; já deixei o menino sem fraldas, e nada. Espia aí pro senhor vê que dó. Tenho até medo de olhar.

E está lá, muitas vezes, um menino desnutrido, com história de abandono precoce do leite materno, com má higiene local, impregnado de fezes e urina, com a pele das regiões perianal, perivaginal ou escrotal toda vermelha, ressecada, com áreas brilhantes e ferida, pedindo para ser limpa e bem cuidada.

O QUE SÃO ASSADURAS E POR QUE OCORREM? – Assadura é uma reação inflamatória aguda, sendo uma das formas mais comuns de dermatite de contato por substâncias irritantes. O termo dermatite de fraldas é freqüentemente utilizado. Existe uma combinação de fatores que iniciam e mantém o problema. Contato prolongado com fraldas úmidas e materiais impermeáveis levam à maceração da pele, bem como à irritação por urina e fezes.

DERMATITE DE FRALDAS LEVE – Há uma vermelhidão de pele, com descamação, aspecto brilhante e, eventualmente, com pontinhos elevados (pápulas). As lesões poupam as dobras da pele, ficando restritas às regiões cobertas pelas fraldas.

DERMATITE DE FRALDAS MODERADA – As lesões ficam erosivas (machucam a pele mais profundamente), ficando de cor mais violácea (mais para roxa, escura) e áspera.

DERMATITE DE FRALDAS SEVERA – Conhecida como dermatite amoniacal. Aparece mais freqüentemente em crianças abaixo de 2 anos de idade, inicia-se geralmente entre o primeiro e o segundo mês de vida e, se não devidamente controlada, pode recorrer até que a criança não use mais fraldas. Localizam-se nas áreas de fraldas, face interna das coxas, nádegas e glande ou vulva.

PAPEL DAS FEZES – As várias enzimas (substâncias químicas) que existem nas fezes facilitam a penetração de substâncias irritantes na pele.

PAPEL DA URINA – Associando-se com as fezes, agem de maneira prejudicial sobre a pele úmida. A urina recente não provoca lesão cutânea, mas a que permanece em contato com a pele por mais de 18 horas (putrefata) pode danificá-la. A hiper-hidratação (local úmido, pouco ventilado) e o atrito com as fraldas são os fatores iniciais mais importantes no início da dermatite de fraldas.

PAPEL DAS FRALDAS – As fraldas úmidas promovem aumento da hidratação, alterando as defesas da pele, tornando-a mais sujeita a danos mecânicos e irritantes químicos. As fraldas de pano provocam maior umidade que as descartáveis, porém essas últimas são envolvidas por material impermeável, o que aumenta o abafamento do local, diminuindo a evaporação de água a partir da pele.

PAPEL DA DIETA – O leite materno tem papel protetor pois seus componentes alteram a flora bacteriana do intestino com microorganismos protetores das assaduras por modificar as substâncias químicas irritantes da pele.

PAPEL DOS MICROORGANISMOS – A influência de fungos (Cândida sp) e bactérias na origem da dermatite de fraldas é discutível.

HIGIENE DA ÁREA DA FRALDA - Deve ser feita com água morna nas trocas e enxágüe abundante na presença de fezes. Friccionar a pele no momento da limpeza e o uso de lenços umedecidos devem ser evitados para não alterarem a composição normal da pele, levando ao início das assaduras. (Ficar enxugando demais o menino, com raiva dele ter feito tanto cocô e xixi só prejudica e contribui para ferir ainda mais sua pele delicada).

TROCA FREQUENTE DAS FRALDAS – Devem ser trocadas de cinco a seis vezes no dia. (Claro que no caso de diarréias essa freqüência será de acordo com a necessidade!). Deve-se aguardar um tempinho entre a retirada de uma fralda úmida e a colocação de outra seca para diminuir a hiper hidratação que se acumula entre as trocas.

LAVAGEM DAS FRADAS – Deve-se evitar o uso de sabão em pó e amaciantes. Se estiver usando fraldas de pano há muito tempo e, provavelmente já contaminadas por bactérias ou fungos, devem ser lavadas, preferencialmente fervidas, e deixadas de molho durante a noite em um balde com água e algumas colheradas de vinagre. No dia seguinte, lavá-las novamente e passa-las com ferro bem quente. As calças plásticas também devem ser lavadas e expostas ao sol.

MEDICAÇÕES NO LOCAL – É importante que as medicações utilizadas no local não sejam causticas e tenham mínima possibilidade de provocar dermatite de contato. O óxido de zinco pode ser utilizado em todas as trocas de fraldas. A retirada excessiva da pomada deve ser evitada, pois a fricção pode levar à maior lesão da pele e à retirada da camada de reepitelização em formação. Outros medicamentos deverão ser prescritos somente por médicos. Evite usar pomadas que deram certo para outras crianças.

PREVENÇÃO – Leite materno exclusivo até os 6 meses de idade. Manter a pele sempre seca e livre dos fatores agravantes já citados, tais como contato prolongado com fezes e urina. A exposição ao sol da área acometida auxilia na resolução da dermatite.

Fonte – Programa Nacional de Atualização Pediátrica (PRONAP) – Sociedade Brasileira de Pediatria – Estudando Dermatologia – Fascículo I – Dermatite de Fralda