terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Obstipação intestinal crônica





Cada criança tem seu hábito intestinal normal. Para dizermos que uma criança tem constipação intestinal é necessário conhecer este hábito, previamente:

1 - A freqüência das evacuações varia com a idade e o tipo de dieta. Em recém nascidos e lactentes jovens a freqüência pode variar de dez evacuações ao dia até uma evacuação a cada sete a dez dias.

Com aumento da idade há diminuição do número de evacuações, variando de três vezes ao dia até uma vez a cada três dias.

2 - A consistência fecal depende da quantidade de água nas fezes. Estas são mais amolecidas nos recém nascidos e lactentes jovens e mais consistentes em crianças maiores. Nos constipados a taxa de água das fezes é diminuída (fezes ressecadas e endurecidas)

3 - O peso fecal também varia de acordo com a dieta (menos pesadas em recém nascidos e lactentes e mais pesadas em crianças maiores) variando entre 50 e 400 g.

4 - O tempo médio de trânsito intestinal ( intervalo entre a ingestão do alimento e eliminação do bolo fecal varia de 8 (em bebês de 1 – 3 meses) até 60 horas (em escolares).

A dificuldade em se tratar uma criança com constipação começa pela dificuldade em se definir quem são as crianças portadoras de um ritmo intestinal alterado.

Constipação intestinal é definida com relação a alterações de freqüência, consistência, tamanho e/ou dificuldade de eliminação das fezes.

Existem algumas variações na definição de constipação intestinal. Tem constipação quem demora muitos dias para evacuar? Seria quem evacua com dificuldade e com dor? Ou quem elimina fezes ressecadas e em grandes volumes, com raias de sangue muitas vezes.

Fique atento, pois os quadros de constipação mais avançados podem simular diarréia e retardar a procura pelo ajuda médica.

Poderíamos definir constipação pela ocorrência de qualquer um dos sintomas, independente do intervalo das evacuações: eliminação de fezes duras, em cíbalos, na forma de seixos ou cilindros com rachaduras, com raias de sangue ou escape fecal, dificuldade ou dor para evacuar, eliminação esporádica de fezes muitos volumosas ou freqüência de evacuações inferior a três por semana, exceto em crianças em aleitamento materno exclusivo.

Entende-se que estes sintomas devam ocorrer por período maior que trinta dias (alguns determinam 3 meses), para caracterizar um quadro de constipação crônica.

E o que é escape fecal (soiling)? É a perda involuntária de parte do conteúdo fecal por portadores de constipação crônica conseqüente existência de fezes impactadas no reto.

A constipação crônica na infância pode ser funcional ou secundária a outras patologias. A maioria dos casos

se enquadram em constipação intestinal funcional.



O QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE O FUNCIONAMENTO INTESTINAL?


A entrada de alimentos no aparelho digestivo é seguida de uma série de movimentos que tem por finalidade misturar o conteúdo alimentar,

facilitando a absorção de água e outros nutrientes, e impulsionar o bolo fecal para o reto (peristalse).

O intestino se divide em delgado e grosso (colo, sigmoide e reto). Ao fim do reto encontra-se o anus. Este é envolvido por dois esfíncteres (“válvulas”): anal interno e externo que são de controle involuntário e voluntário respectivamente.

As principais funções do colo são absorver água e eletrólitos, conduzir as fezes a partir do intestino delgado, e armazená-las especialmente no sigmoide, antes da evacuação. Após as refeições podem haver contrações colônicas de grande amplitude empurrando a massa fecal para o interior do reto (reflexo gastro cólico) que desencadeará o reflexo evacuatório.

Normalmente o reto não contém fezes. Com a progressão destas para seu interior, conseguida através dos movimentos intestinais, desencadeia-se o reflexo evacuatório. A presença de fezes no reto provoca uma distensão do mesmo e um relaxamento do esfíncter anal interno ( situado logo abaixo dele) , desencadeando a vontade de evacuar. Neste momento a criança relaxa ou contrai o esfíncter anal externo, se for conveniente ou não que a evacuação se concretize.

A posição ideal é o agacho com contração da musculatura abdominal durante inspiração, relaxamento do esfíncter anal externo e contração de musculatura do períneo (musculatura que envolve o anus). A coordenação desses mecanismos começa a ficar voluntária a partir do segundo ano de vida.

Caso a criança impeça a eliminação do bolo fecal, estas fezes retornam ao sigmoide, deixando o reto vazio novamente.

A retenção fecal ocorre quando estas fezes não são eliminadas . Se por tempo prolongado, o reto passa a conter fezes (o que não deve ocorrer normalmente).

A distensão constante do reto diminui sua sensibilidade e o reflexo evacuatório fica interrompido. Com o passar do tempo a criança vai dilatando porções superiores do intestino (colo), as fezes vão se tornando mais ressecadas e volumosas (fecaloma).

Instala-se um ciclo vicioso, quando a criança sente dor para evacuar e para se defender da dor evita a evacuação, retendo mais fezes e proporcionando mais dor.

A presença do fecaloma pode manter o esfíncter anal interno constantemente dilatado e a criança torna-se incapaz de perceber o escape de fezes pelo anus em sua roupa intima – é o soiling). Isto pode ser constatado nos quadros de constipação crônica mais avançada.

Além da dor e retenção de fezes é fator importante na gênese da constipação a elaboração da dieta. Esta deve ser rica em fibras que proporcionam um trânsito intestinal mais rápido e um maior peso do bolo fecal.

Também existem fatores individuais e familiares associados levando a distúrbios da motilidade intestinal e constipação (´e comum várias pessoas terem constipação na mesma família).



QUAIS SÃO OS SINTOMAS DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL CRÔNICA?


Cerca de metade dos casos surge no primeiro ano de vida (muitas vezes coincidente com o desmame). É mais freqüente em sexo feminino.

Eliminação de fezes endurecidas, ressecadas, volumosas. Intervalos maiores entre as evacuações, raias de sangue nas fezes, dor ou dificuldade em evacuar, posição de defesa, escape fecal (mais tardiamente). È causa relativamente freqüente de dor abdominal crônica na infância.

Outras manifestações menos comuns: vômitos, infecções urinárias de repetição, retenção ou incontinência urinária, falta de apetite, náuseas, cefaléia, flatulência (gases), massa abdominal palpável, distensão abdominal, fissura anal (pequenas feridas no anus).

Faz-se necessário descartar a presença de outras patologias associadas. Daí a importância da avaliação médica.


O QUE FAZER DIANTE DE SEU FILHO COM CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL?


O tratamento é prolongado e exige grande dedicação e paciência e compreensão por parte da família e da criança.

O objetivo é interromper a retenção fecal e evitar a manutenção do ciclo vicioso.

O colo e o reto precisam estar vazios para se restabelecer a contração e sensibilidade normais, com restabelecimento do reflexo evacuatório normal


O TRATAMENTO SE DIVIDE EM CINCO FASES


1 – Conhecimento de todo o processo pela família e pela criança (sempre que possível);

2 – Eliminação do fecaloma: limpeza do conteúdo fecal retido cronicamente através de lavagens em série conforme a necessidade de cada caso;

3 – Impedimento da formação de novos fecalomas – através de orientação dietética e da introdução de laxativo com o objetivo de abolir a presença de escape fecal e evacuação dolorosa. Assim a criança perderá o medo de evacuar e readquirirá a confiança neste ato. Esta fase poderá durar 3 meses a 1 ano;

4- Reinício do treinamento evacuatório - encorajar a criança a sentar-se no toalete por 3 – 5 minutos três a quatro vezes ao dia, após as refeições (treinamento). Seus pés devem estar apoiados no chão ou banqueta posição confortável);


5 – Manutenção - O tratamento deverá ser mantido, sob orientação, pelo tempo que for necessário para que o intestino distendido volte a sua função normal. É importante a “não descontinuidade” do mesmo , ainda que hajam sinais de melhora, pois esta é a maior causa de insucesso do tratamento. A retenção de fezes implica em reinicio do tratamento, o que gera uma grande frustração para a criança.

Clínica Infanto-Juvenil Pró-Crescer: Do Feto à Adolescência (http://www.procrescer.med.br/)